Domingo, 09 de Agosto de 2009.
King Lear.
Quando o filme Balada da Praia do Cães saiu, tive uma grande surpresa. Raul Solnado, que eu conhecia como humorista, o mais conceituado humorista português, havia feito um personagem assustador, intenso, inesquecível. Aquele homem, aquele homem que eu conhecia como humorista, era um actor. Um verdadeiro, excelente actor.
Disse então à minha avó que queria escrever-lhe, ao Raul Solnado, para lhe dizer isso mesmo, o quanto me tinha impressionado o seu trabalho no filme.
A escrita da carta demorou-se, por esta ou aquela razão, e um dia ouço-o dizer numa entrevista que ele havia tido precisamente essa reacção, de forma pessoal, por parte de certas pessoas. Disse que isso o havia incomodado, que se sentira ofendido até, que se ofenderia seriamente se tornassem a dizer-lhe o quanto ele havia surpreendido com o filme, pois pensava que era já adquirido para o público que ele era um actor, e como tal, capaz de fazer tudo. Claro que fiquei muito descansado por não ter ainda escrito a tal carta. Em todo o caso, achei um pouco abusivo o facto de ele se ter permitido ofender por isto. Adiante, passou.
Passámos por ele uma vez. Foi a única vez que o vimos pessoalmente, eu e a Isabel, no ArteLisboa. Ia ele com um amigo, cruzando-nos à entrada do stand de uma galeria. Um breve momento tão furtivo como feliz e divertido, para nós.
Hoje, Domingo, ao final da tarde, fomos passear até à pista de ciclo-turismo. Eu e a Isabel e os meninos –Baltazar e Valquíria, os nossos dois cãezinhos, entenda-se–, e eu contei-lhe esta história. E como, ainda assim, agora que o Raul Solnado havia falecido, gostaria de lhe ter escrito a tal carta.
E disse-lhe ainda que havia desaparecido o melhor King Lear que poderia ter sido feito até hoje em português. Que nos últimos anos ele seria o Lear ideal, que seria agora o personagem paradigmático para ele. Emocionei-me, que desperdício estúpido, que oportunidade perdida!
“Porque não lhe escreveste a dizer-lhe isso mesmo?”.
The weight of this sad time we must obey;
Speak what we feel, not what we ought to say.
The oldest hath borne most
King Lear.
Quando o filme Balada da Praia do Cães saiu, tive uma grande surpresa. Raul Solnado, que eu conhecia como humorista, o mais conceituado humorista português, havia feito um personagem assustador, intenso, inesquecível. Aquele homem, aquele homem que eu conhecia como humorista, era um actor. Um verdadeiro, excelente actor.
Disse então à minha avó que queria escrever-lhe, ao Raul Solnado, para lhe dizer isso mesmo, o quanto me tinha impressionado o seu trabalho no filme.
A escrita da carta demorou-se, por esta ou aquela razão, e um dia ouço-o dizer numa entrevista que ele havia tido precisamente essa reacção, de forma pessoal, por parte de certas pessoas. Disse que isso o havia incomodado, que se sentira ofendido até, que se ofenderia seriamente se tornassem a dizer-lhe o quanto ele havia surpreendido com o filme, pois pensava que era já adquirido para o público que ele era um actor, e como tal, capaz de fazer tudo. Claro que fiquei muito descansado por não ter ainda escrito a tal carta. Em todo o caso, achei um pouco abusivo o facto de ele se ter permitido ofender por isto. Adiante, passou.
Passámos por ele uma vez. Foi a única vez que o vimos pessoalmente, eu e a Isabel, no ArteLisboa. Ia ele com um amigo, cruzando-nos à entrada do stand de uma galeria. Um breve momento tão furtivo como feliz e divertido, para nós.
Hoje, Domingo, ao final da tarde, fomos passear até à pista de ciclo-turismo. Eu e a Isabel e os meninos –Baltazar e Valquíria, os nossos dois cãezinhos, entenda-se–, e eu contei-lhe esta história. E como, ainda assim, agora que o Raul Solnado havia falecido, gostaria de lhe ter escrito a tal carta.
E disse-lhe ainda que havia desaparecido o melhor King Lear que poderia ter sido feito até hoje em português. Que nos últimos anos ele seria o Lear ideal, que seria agora o personagem paradigmático para ele. Emocionei-me, que desperdício estúpido, que oportunidade perdida!
“Porque não lhe escreveste a dizer-lhe isso mesmo?”.
The weight of this sad time we must obey;
Speak what we feel, not what we ought to say.
The oldest hath borne most
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