Piano alone. A Composer's journal. Piano só. Diário de um compositor. Piano seul. Journal d'un Compositeur. Piano Solo. Diario di un Compositore. Klavier Allein. Ein Komponist Tagebuch.












Wednesday 16 September 2009

King Lear


Domingo, 09 de Agosto de 2009.
King Lear.

Quando o filme Balada da Praia do Cães saiu, tive uma grande surpresa. Raul Solnado, que eu conhecia como humorista, o mais conceituado humorista português, havia feito um personagem assustador, intenso, inesquecível. Aquele homem, aquele homem que eu conhecia como humorista, era um actor. Um verdadeiro, excelente actor.
Disse então à minha avó que queria escrever-lhe, ao Raul Solnado, para lhe dizer isso mesmo, o quanto me tinha impressionado o seu trabalho no filme.
A escrita da carta demorou-se, por esta ou aquela razão, e um dia ouço-o dizer numa entrevista que ele havia tido precisamente essa reacção, de forma pessoal, por parte de certas pessoas. Disse que isso o havia incomodado, que se sentira ofendido até, que se ofenderia seriamente se tornassem a dizer-lhe o quanto ele havia surpreendido com o filme, pois pensava que era já adquirido para o público que ele era um actor, e como tal, capaz de fazer tudo. Claro que fiquei muito descansado por não ter ainda escrito a tal carta. Em todo o caso, achei um pouco abusivo o facto de ele se ter permitido ofender por isto. Adiante, passou.
Passámos por ele uma vez. Foi a única vez que o vimos pessoalmente, eu e a Isabel, no ArteLisboa. Ia ele com um amigo, cruzando-nos à entrada do stand de uma galeria. Um breve momento tão furtivo como feliz e divertido, para nós.
Hoje, Domingo, ao final da tarde, fomos passear até à pista de ciclo-turismo. Eu e a Isabel e os meninos –Baltazar e Valquíria, os nossos dois cãezinhos, entenda-se–, e eu contei-lhe esta história. E como, ainda assim, agora que o Raul Solnado havia falecido, gostaria de lhe ter escrito a tal carta.
E disse-lhe ainda que havia desaparecido o melhor King Lear que poderia ter sido feito até hoje em português. Que nos últimos anos ele seria o Lear ideal, que seria agora o personagem paradigmático para ele. Emocionei-me, que desperdício estúpido, que oportunidade perdida!
“Porque não lhe escreveste a dizer-lhe isso mesmo?”.

The weight of this sad time we must obey;
Speak what we feel, not what we ought to say.
The oldest hath borne most

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